Diante de qualquer manifestação nacionalista, escutei não poucas vezes o antigo bordão de Samuel Johnson proferido feito sentença: "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas"
Quando
explodiram as manifestações de junho de 2013 a partir da convocatória feita
pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o terrível sistema de transporte que
sofremos, não faltaram vozes contra o uso das bandeiras brasileiras pelas mãos
delicadas de uma classe média que parecia descobrir o gosto pelo protesto social.
Muitos amigos afirmavam que a evocação do nacional era um mau sinal: a direita
ganhava as ruas. Mais ainda: a direita nacionalista finalmente rangia seus
dentes contra um governo “progressista” que a mídia golpista quer derrubar. Enfim,
eles concluíam que nenhuma manifestação nacionalista pode ser de esquerda
porque – comprava-se uma vez mais – o nacionalismo é historicamente uma arma da
direita.
Diante do espasmo
nacionalista do ano passado ouvi, especialmente de pessoas com passado ou
sentimento de esquerda, que o nacionalismo – não havia mais dúvidas – também
aqui era expressão do “último refúgio dos canalhas”, tal como o escritor inglês
havia vaticinado de maneira aparentemente irremediável em 1735. Afinal, “esta
gente” que então reclamava é a mesma que sempre calou diante das imensas
carências do povo brasileiro. Esta gente – repetiam – jamais subiu num ônibus
ou metrô!! Não possuem, portanto, direito ao protesto com o sofrimento alheio.
De fato, é típico do comportamento classemédia
a indiferença diante da superexploração a que estão submetidos milhões de
trabalhadores brasileiros. Com frequência ideológica, a classe média,
especialmente a alta, não cansa de culpar os miseráveis por sua própria miséria:
não gostam de trabalhar, possuem muitos filhos, não tem disciplina, bebem, sambam,
perdem tempo com futebol, etc... Em consequência a classemédia acredita que o PIB cresce por passe de mágica e não em
função do suor e sangue de milhões de seres humanos que jamais poderão usufruir
dos resultados de seu próprio trabalho.
Não há dúvidas sobre a falta de sensibilidade social da classe
média, pois ela pensa e atua assim; mas este reconhecimento não concede razão aos
“críticos progressistas”. Há grave contradição na consciência sempre ingênua de
pessoas “progressistas”. De maneira geral o bando progressista defende os
governos Lula/Dilma. Alegam que diante dos tucanos e das circunstancias, é tudo
que podemos conseguir. Eles parecem esquecer – por pura conveniência - que
precisamente os governos Lula/Dilma são os maiores representantes do sentimento
de classe média, esta poderosa ideologia que atualmente governa a cabeça da
maioria. Não à toa, Lula insistia na exibição dos supostos 30 milhões de
brasileiros que assumiram a condição de classe média. Os analistas difundem esta
ideologia como algo essencialmente positivo, mas jamais eles próprios pensaram
em participar da nova classe média brasileira, pois esta incluiu tão somente aqueles
que recebem até 3 salários mínimos. A “nova classe média” seria muito boa para
os miseráveis, nunca para os defensores do governo que analisam a situação em
salas confortáveis ou em seminários acadêmicos; portanto, observam a vida
nacional longe, bem longe da tristeza que implica a vida comum, quase
miserável, de milhões de brasileiros.
Há algo de
perverso nesta operação política. A ideologia
que afirma a emergência de uma nova classe média é também uma forma de digestão moral da pobreza que conforta e
ilude os “progressistas”. A política social – sempre necessária em países
dependentes – é motivo de orgulho para os petistas, mas é também conveniente
para a classe dominante na medida em que a famosa “questão social” encontrou
finalmente uma fórmula mágica e eficaz de solução: não mais se trata de “um
caso de polícia” – como aprece ter afirmado na década de 30 o presidente
Washington Luís – mas um caminho seguro de atender aos pobres e miseráveis sem tocar no poder, na propriedade e nos
ganhos dos ricos. Não há que iludir-se com o fundamental, afinal, como insistiu
Lula, “os ricos nunca ganharam tanto no meu governo”. Os pobres e os miseráveis,
sempre submetidos à superexploração, votam massivamente em Lula e Dilma para
não perder as migalhas que ganharam. Os ricos seguem acumulando sem grande
estorvo. Enfim, parece que vivemos no “melhor dos mundos possíveis”!
Contudo, o bando
que divulga a melhoria da situação do país reconhece que os serviços públicos
são mesmo péssimos, razão pela qual o protesto pode emergir de maneira
inesperada em qualquer momento e situação.
Foi neste
contexto que as bandeiras verde-amarelas voltaram às ruas. Não era a primeira
vez, é preciso recordar. Na campanha das “diretas já” (1985) a bandeira
nacional figurava como artigo quase militante e nos principais comícios se
cantava o hino nacional com fervor contra a ditadura. Mas a memória é, nas
filas da esquerda, um recurso de luxo e à direita, um artigo inconveniente. Por
esta razão, a crítica contra o uso da bandeira nacional – e o nacionalismo
ambíguo – voltou com força e figurou como expressão de novidade. Chegamos ao
absurdo de supor que ninguém pode reivindicar a condição de crítico senão se
afastar do nacionalismo, esta força que figura entre nós como espécie de lepra
política.
O uso indevido
da famosa frase de Johnson (“o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”) é,
ainda que não pareça, fruto de um enorme desconhecimento da história da
Inglaterra. Mas também é produto de um gigantesco erro estratégico da esquerda
brasileira, tributária do eurocentrismo, esta poderosa ideologia fomentada
desde a Europa e os Estados Unidos. Entre nós, o eurocentrismo aparece como
apreço alienante ao cosmopolitismo e rechaço ao nacionalismo.
Vamos analisar
os dois temas.
O nacionalismo inglês de Johnson
Os patriotas eram na Inglaterra de Johnson
uma tendência política tal como existiam trabalhistas no Brasil ou existem
peronistas na Argentina e democratas nos Estados Unidos. Enfim, antes que
necessariamente nacionalistas, eram uma corrente
de opinião, partidária e política, numa Inglaterra que apenas começava
colher os frutos daquilo que os ingleses chamam com desmedido orgulho nacional,
Revolução Gloriosa. Os patriotras, em consequência, militavam no patriotismo.
Foi precisamente
em 1774, portanto um ano antes de afirmar que “o patriotismo é o último refúgio
dos canalhas”, que Johnson escreveu um famoso panfleto de campanha – The
Patriot – destinado a defender uma vez mais o voto nos patriotas. Trata-se de
um texto por encomenda que o escritor produziu com evidente ardor patriota e
profunda convicção política.
Donald Green,
organizador de vários escritos de Johnson, afirma que “desde a década de 1730
esta palavra havia sido o grito de todo grupo de oposição descontente, qualquer
que fosse sua composição e objetivo”. Os
patriotas atravessaram um século com certo prestígio de tal forma que os
radicais de 1760 e os reformadores parlamentares de 1780, recorriam a
legitimidade histórica para afirmar suas ideias e políticas muitos anos depois
de ter inicio este curioso movimento de ideias. Betty Kemp escreveu que “o
programa patriota significava, na prática, place
bills, parlamentos de curta duração, eleições livres, a destruição da
influência do Rei sobre o Parlamento”.
Não estavam
sozinhos. Jamais esqueço David Ricardo, segundo Marx o mais importante economista do século
XVIII, também apresentou uma reforma parlamentar em 1818 e jamais
conseguiu aprová-la porque, precisamente, tentava diminuir o poder do Rei com a
introdução do voto secreto, mandatos parlamentares curtos e direito de voto aos
que pagavam impostos e não exclusivamente aos proprietários. O parlamento nunca
aprovou sua tímida proposta de reforma. E David Ricardo era um fervoroso
nacionalista, embora jamais se definiu como tal pois, ao contrário de Johnson,
viveu numa época em que seu país já era a potencia dominante na Europa. Na
época ricardiana a Inglaterra já era a nação mais poderosa do continente
europeu e a tarefa de todo inglês culto era condenar os demais povos na
pretensão de construir sua nação. Enfim, toda figura inglesa de prestígio e/ou
influencia era, antes de qualquer outra coisa, nacionalista.
Na Inglaterra do
século XVIII os nacionalistas consequentes assumiam o patriotismo. Os
oportunistas, após tentarem de todas as formas coquetear com o Rei, após operar
inúmeras manobras e bandaços – hoje com os liberais e amanha com os
conservadores – quando viam as portas da política parlamentar se fecharem, não
vacilavam em recuperar o prestígio perdido candidatando-se pelo patriotismo que
atravessava décadas resistindo o teste decisivo do tempo com vitalidade e
credibilidade junto ao povo inglês.
Portanto, o
patriotismo – antes que uma tendência nacionalista semelhante que aflora na
América Latina – era uma espécie de tradição política que marcava a linha
oposicionista ao Rei num contexto de uma operação difícil. Mas era evidente que
os patriotas professavam amor à Inglaterra e, a sua maneira, eram também
nacionalistas. Nunca foi fácil opor-se a reis na Europa. Johnson, em
consequência, escreveu profusamente tentando sempre salvar o patriotismo dos
oportunistas de todos os matizes. Não poderia ter sido mais favorável ao
patriotismo ao afirmar que “um Patriota
é aquele cuja conduta pública esta regulada por um único motivo, o amor a seu
país; aquele que, como agente no Parlamento, não tem esperança nem temor por si
mesmo, sem amor nem resentimento, mas para o qual tudo se refere ao interesse
comum”.
Alguém poderia ter dúvida de seu absoluto entusiasmo pelo patriotismo?
Agregou que a “qualidade do patriotismo é ser zeloso e vigilante, observar
todas as maquinações secretas e ver os perigos públicos a distância. O
verdadeiro “amante de seu pais” esta disposto a comunicar seus temores e a dar
alarme cada vez que percebe que se aproxima um mal...”. Enfim, escreveu
copiosamente a favor dos Patriotas com um único objetivo: revelar os falsos patriotas, especialmente aqu*eles
que sendo execrado pelos demais partidos pela porta de trás pretendiam
ressurgir das cinzas entrando no patriotismo pela janela. Diante de seu
fracasso em impedir os oportunistas e trapaceiros de toda espécie em prosperar
nas fileiras em que ele com tanto zelo militava, não vacilou em alertar que o
“patriotismo é o último refúgio dos canalhas”! Jamais foi sua intenção liquidar
ou diminuir o patriotismo (ao contrário!!!), mas única e exclusivamente impedir
o domínio da canalha nesta importante tradição política.
Este é o sentido
profundo da famosa frase de Johnson que antes de morrer – em 1775 – escreveu um
largo ensaio sobre as Ilhas Malvinas, este território que até mesmo os britânicos
cosmopolitas ainda acreditam ser propriedade inglesa. O estilo literário do
escritor inglês não esconde algo fundamental: seu texto era, de maneira
discreta, uma defesa sobre a soberania
inglesa das Ilhas que são da Argentina. No entanto, com tom de quem
desdenha o território além-mar, ele não deixou de defender discretamente a
soberania inglesa sobre o território argentino, mesmo espetando o Rei e o
desejo de parte dos políticos ingleses em fazer e lucrar com as guerras. Não
por acaso, quando madame Margareth Teacher decidiu atacar a Argentina para
recuperar o território perdido momentaneamente em 1982 em plena ditadura
militar no país vizinho, o velho panfleto de Johnson foi novamente editado aos
milhares pela elegância e por sua discreta natureza nacionalista. Ninguém pode
duvidar da devoção de Johnson à Inglaterra. Ele jamais se alinhou ou escreveu
sobre as virtudes do cosmopolitismo. Jamais se pensou “cidadão do mundo”, como
se as fronteiras nacionais não mais existissem porque precisamente na época em
que viveu elas estavam apenas nascendo.
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Cosmopolitismo cultural na rua onde vivo |
O erro estratégico da esquerda
A esquerda brasileira
sofre profundo processo de redefinição. Também o protesto social busca caminhos
eficazes de combate e reivindicação, moldando lentamente, de maneira
acidentada, seu novo perfil. Neste contexto, é claro
que esta difícil definir quem é de esquerda no Brasil. Não tenho dúvidas que
muita gente auto-definida como “progressista” pretende, na verdade, o monopólio
da esquerda. É a forma envergonhada de “afirmação” do campo da esquerda,
atitude que expressa além de oportunismo, uma dificuldade real do processo
político. Em geral eles defendem Lula e Dilma como se, de fato, o atual governo
fosse o horizonte da política possível. Em consequência, os “progressistas”
atribuem às massas seu próprio limite político e, das frações de classe,
constituem a mais vulnerável ao modismo cultural from esteiteis. Esta é uma das razões pelas quais não aprovam a
cultura nacional e não poucos duvidam abertamente de sua existência. Também por
isso, estão sempre “abertos” ao modismo cultural, via pela qual tem livre curso
o colonialismo emanado dos centros metropolitanos (Nova York e Paris, na
cabeça).
Para estes, nada
pior que um proleta carregando uma bandeira do Brasil. Nada mais alienante que
um negro favelado empinando o pavilhão nacional. Enquanto condena a lepra
política do nacionalismo nos trópicos, o sujeito vai pra Europa e se encanta
com a comemoração dos 200 anos da Revolução Francesa – uma data nacional – ou vive
com êxtase os festejos do “Independence day” nos Estados Unidos, mas detesta
qualquer manifestação na sua própria Pátria, cuja manifestação, mesmo quando
singela, não será considerada menos que um estorvo. Nestas circunstâncias o
nacionalismo é, para os progressistas, uma demonstração inequívoca de que os
pobres são massa de manobra da direita. Os progressistas agregam que nada pode
ser mais provocador que um sujeito de classe média coberto pela bandeira
nacional protestando contra o governo que mais fez pelos pobres em nossa
história. Nada pior que uma classe média de unhas bem pintadas, cabelos
ordenados, roupa clean e pele branca
protestando contra o “seu” governo. É precisamente nestas circunstancias quando
recordam e repetem com entusiasmo que “o patriotismo é o último refúgio dos
canalhas”.
Embutido na
operação, claro está que os “progressistas” reafirmam sua filiação ao internacionalismo
abstrato que os impede de se assumir como esquerda
nacional. Prefere, em oposição, professar apego ao cosmopolitismo idiota e
alienante que orienta sua literatura preferida, as marcas do vinho francês que
aprecia, o padrão de vida e o consumo típico da indústria cultural. Eles
resistem em assumir a cultura nacional como condição necessária da Revolução
Brasileira. No limite – repito – duvidam ou rechaçam inclusive a ideia de uma
“cultura brasileira”. Em consequência, mesmo que expressem certo apoio aos
“bolivarianos” de outros países, na prática não deixam de considerar esta
perspectiva como “brega” ou imprópria para um país moderno e “complexo” como o
Brasil mais assemelhado a França do que ao México ou Argentina.
A chamada inteligência
brasileira, quase que reduzida ao mundinho universitário e a sedução midiática,
não consegue romper com sua formação europeia, canônica, repetitiva da indústria
cultural. Em consequência, ela adora shoppincenter. Cinema Cult. Escrever e
publicar em inglês. Quando se debruça sobre a cultura brasileira, prefere
sempre Machado à Lima Barreto na mesma medida em que dedica atenção especial à
Chauí – e seu infinito apreço pela
cultura nacional francesa – enquanto desconhece Álvaro Vieira Pinto com seu
enorme conhecimento sobre o Brasil. É neste momento conclusivo que nos espetam
contra a lepra nacionalista e repetem Johnson. Contudo, devo recordar uma vez
mais, para desespero dos opositores do nacionalismo, que Johnson morreu
patriota.
O nacionalismo na América Latina
O nosso
nacionalismo, o nacionalismo latino-americano é, como podemos ler num texto
esquecido de Gilberto Freyre, um “nacionalismo de proteção” que somente se
justifica porque o mundo esta comandado por um “nacionalismo agressivo”, de
corte imperialista, aquele mesmo com o qual os ingleses inauguram sua hegemonia
mundial no século XIX. Este reconhecimento elementar sobre a natureza decisiva
do nacionalismo nos países dependentes registrado por um conservador como Freyre
passa batido pela esquerda que se pretende “moderna” e “culta”, sem vínculos
profundos com a cultura nacional. Aqui entre nós, nem nacionalismo, nem
patriotismo é conveniente, ensinam os moderninhos. Eles esquecem – ou fingem
esquecer – que a vida nos Estados Unidos, ou em qualquer país europeu
“civilizado” de preferência, esta orientado por profundo nacionalismo. Bastaria
ler o discurso de posse de Barak Obama para perceber o elementar ou acompanhar
com alguma atenção as ações e discursos de senhora Merkel na Alemanha ou
Holland na França. Ambos são, cada qual à sua maneira, disciplinados nacionalistas.
Agressivos nacionalistas, diria.
E o que seria o
nosso patriotismo? Na pluma de Lima Barreto, as virtudes de Policarmo Quaresma definem
o tema: “Policarpo era patriota. Desde
moço, aí pelos vinte anos, o amor da pátria tomou-o por inteiro. Não fora o
amor comum, palrador e vazio, fora um sentimento sério, grave e absorvente.
Nada de ambições políticas ou administrativas; o que Quaresma pensou, ou
melhor: o que o patriotismo o fez pensar, foi um conhecimento inteiro do
Brasil, levando-o a meditações sobre os seus recursos, para depois então
apontar os remédios, as medidas progressivas, com pleno conhecimento de causa”.
Enfim, nada que se possa aprender num texto de Raws, Bourdieu ou Habermas.
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Na pista literária de Lima Barreto, o gênio esquecido |
Bem sei que no
lugar da cultura nacional, o colonialismo alienante que comanda a vida
acadêmica no país – especialmente no jornalismo e na reduzida vida intelectual
– indica as virtudes do cosmopolitismo como caminho racional e seguro pra êxito
profissional e audiência pública. A conduta nacionalista é logo escrachada
impiedosamente enquanto para o “universalismo” se rendem todas as homenagens.
Colonialismo na veia, apresentado como se de fato fosse universalismo virtuoso,
representante do bem da Humanidade.
Alguém, acaso,
poderia ser contrário a influencia da “cultura universal” sobre nossas vidas? Bem,
se tal coisa existisse – a cultura universal – definitivamente não poderíamos
nem deveríamos nos opor. Ao contrário, se um belo dia, ao despertar, nos
encontrássemos com a existência da “cultura universal” deveríamos abraçá-la
como patrimônio comum da Humanidade. O que temos, no entanto, é algo
substancialmente diferente. Quando alguém aqui no Brasil reivindica as virtudes
do cosmopolitismo com inusitada frequência pretende, na pratica, tão somente a
defesa da indústria cultural dos Estados Unidos. No rádio, no jornal e na TV. Na
editora e na linguagem corrente. Na novela com grande audiência e na canção de
moda. Na arquitetura estilo shopping e na vestimenta. Em quase tudo. Ligue uma
emissora de rádio qualquer e desfrute da música universal que ali toca: não há
– quase nunca há – música árabe,
latino-americana, francesa, espanhola ou catalã. Não toca Vila Lobos, Yamandú
ou Paco de Lucia. A música que ali domina é from
esteites, em geral de péssima qualidade. A boa música gringa – que de fato
existe – quase não chega até nós.
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Ardor cosmopolita no bairro onde vivo
Trindade - Florianópolis |
É por esta
razão, e não por suposta deformação genética dos latino-americanos, que a atitude
nacionalista ou o programa nacionalista entre nós adquire muito facilmente um
caráter anti-imperialista na defesa da economia, da cultura, do território, da
soberania. O poder dos Estados Unidos é tal sobre nossa vida material e
espiritual que, por mero ato de sobrevivência, deveríamos ser todos, em medida
distinta, nacionalistas. Enfim, deveríamos ser patriotas, tal como Johnson o
foi na sua amada Inglaterra no século XVIII. Melhor ainda seria se adotássemos a
perspectiva de Marx e entendêssemos que o fim das nações seria efetivamente bom
pra todos nós e fatal para os capitalistas. Mas eu sei que seria pedir demasiado.