Tenho grande apreço
por Milton Temer. Gosto de suas fidelidades, mesmo aquelas que só se conservam
porque estão 35 graus abaixo do zero. É notável que este almirante húngaro
sobreviva nos trópicos, numa das mais belas capitais dos trópicos
latino-americanos! Eu suponho que ele alimenta certa fé e esperança na Grande
Rússia, razão pela qual considera que Putin enfrentaria os gringos no episódio
do Snowden em função das crescentes contradições entre a potência imperialista
e o velho “espírito russo”. De minha parte, observo mais os acordos entre ambos
do que os conflitos, razão pela qual sou mais cético. Mas resulta que Putin
considera os segredos de estado do ex-funcionário da Agencia Nacional de
Segurança dos EUA demasiadamente importantes para ficarem limitados à área de
transito do aeroporto de Moscou – por que de fato, lá não cabem – e muito
melhor seria se fossem finalmente confinados nas enormes e majestosas salas do
Kremlim. Putin possui muitos planos. Ele agora considera que Snowden pode
permanecer com a neve até os joelhos para sempre se – e somente se – não
divulgar nada mais contra “nossos sócios americanos”, dito assim, de maneira ampla.
Você sabe tanto quanto eu que um “sócio” é um ser genérico. Pode ser tão próximo
quanto uma amante e tão distante quanto um concorrente. Snowden tem segredos de
Estado (de muitos Estados!) e esta não é uma situação confortável. Nunca foi.
Agora ele vive no aeroporto de Moscou e a suspeita de que o presidente Evo
Morales estava transportando Snowden em seu avião de regresso da Rússia, levou os
sócios europeus dos gringos à plena submissão; por isso, o presidente boliviano
foi impedido pelos arrastados europeus de voar pelos céus da França, Itália, Portugal,
Espanha e aterrizou, quase sem combustível, na Áustria. Quem diria que a
“ilustrada” França e sua miserável vida política atual, com suas pequenas
livrarias e aquela enorme Comuna chegaria tão baixo? Bravos e lúcidos mesmo
somos nós, os latino-americanos, que queremos receber Snowden como
reconhecimento pelos serviços prestados à humanidade, contra a razão de estado
imperialista e a favor da liberdade individual que os liberais já não podem
defender por impotência adquirida. Enfim, passaporte boliviano, venezuelano e
nicaraguense para o estadunidense Snowden – ele pode escolher – para permanecer
entre nós, agora como um verdadeiro cidadão do mundo e passaporte de uma
república irmã. Rosário, Tierra del Che, 7/7/2013.
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