domingo, 30 de abril de 2017

Macri inaugura a diplomacia dos limões

Argentina é um pais de enorme importância para o projeto emancipatório da Pátria Grande. Há larga tradição anti-imperialista no seu povo e também potente pensamento marxista e nacionalista entre seus intelectuais, grande parte deles criados fora das universidades. Esta importante tradição de intelectuais anti-acadêmicos, verdadeiros pensadores sobre a realidade da Argentina e da América Latina, é também resposta firme contra a vocação cipaya das classes dominantes argentinas, sempre dispostas a manter estrita fidelidade em relação as potencias imperialistas. No século XIX e inicio do XX as classes dominantes argentinas eram devotas da Inglaterra. Após Perón - que liquidou em larga medida a ação britânica na Argentina - os Estados Unidos assumiram notória influência. O ministro de relações exteriores do governo Menem, um sujeito chamado Guido Di Tella, definiu o caráter das relações ente Estados Unidos e Argentina como relações carnais. 

Nesta semana, Mauricio Macri, um representante da burguesia cipaya portenha, sempre disposta a assumir o papel de preposto dos interesses imperialistas no país vizinho, visitou Trump na Casa Branca. O empresário-presidente Trump, líder do liberalismo mundial, afirmou que na audiência “Yo voy a hablarle de Corea del Norte, él va a hablarme de limones” (Página 12). Em seguida, arrematou: “estoy al tanto de los limones. Y lo crean o no, el negocio de los limones es un gran, gran negocio”. A Argentina é grande produtor mundial de limão e exporta mais de 90% da produção, mas para os Estados Unidos as exportações são quase simbólicas; Trump autorizou a importação de 50 milhões de dólares. O capitalista-presidente sabe com quem esta falando; ao referir-se a Macri e indicar que o litígio em torno dos limões é "um grande negócio", indica de forma clara o que pensa dos latino-americanos. Enfim, Trump sabe - tal como Barak Obama sabia - que pode atender a maioria dos presidentes latino-americanos com muito pouco.   

O presidente argentino foi aos Estados Unidos com a máxima do liberalismo latino-americano: na linguagem dos jornalistas, pretende "atrair investimentos". A Argentina desapareceu do noticiário brasileiro porque a imprensa aqui oculta o desastre produzido pelas medidas liberais de Macri e, em consequência, necessita vender ainda mais o país. De fato, não há alternativa para o liberalismo latino-americano exceto seguir internacionalizando a economia e o presidente argentino é bem desinibido no propósito. 

Os Estados Unidos combinam historicamente a defesa retórica do livre comércio com forte ação protecionista. As burguesias cipayas defendem a doutrina do livre comércio porque não podem encabeçar um movimento em defesa da soberania dos países latino-americanos até o fundo e o fim. Não foi Macri quem reclamou o livre comércio para os limões. Foi Trump quem estabeleceu a pauta, o tom e o ritmo do encontro. A dependência dos países latino-americanos é tamanha que para as classes dominantes não resta senão a diplomacia em defesa dos limões.

   

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