terça-feira, 20 de setembro de 2022

o banqueiro acredita nos fatos, os lulistas não...

A cerimônia realizada ontem (19/09/2022) indicava a presença de todos os ex-candidatos à presidência do país, mas a estrela do ato era sem dúvida alguma o funcionário dos bancos, Henrique Meireles, ex-presidente do Banco Central nos longos 8 anos de dois mandatos do Lula. A operação midiática sempre importante numa campanha sem massas, orientada pela mais absoluta alienação sobre os temas fundamentais do estado, da economia, da política e da cultura, contou com a previa aceitação do lulista/petista cativo do bordão religioso segundo a qual "Lula sabe o que esta fazendo"... Eu, nesse ponto, tenho completo acordo pois, de fato, Lula realmente sabe o que esta fazendo!

Meireles não vacilou na cerimônia: o ex-presidente do BC reivindicou para si todos as glórias que o petista ingênuo reclama como próprias sem sequer ter lido duas páginas de um manualzinho de economia política elementar. Em consequência, para a consciência ingênua (e também para os cúmplices!) as conquistas dos banqueiros se transformam em qualidades do governo num passe de mágica mesmo quando contraria as regras básicas do senso comum. O pagamento da dívida externa com o FMI, os 300 bilhões de reservas cambiais, o controle da inflação na meta, o crescimento médio de 4%, e finalmente a farsa dos "140 milhões de brasileiros que saíram da pobreza", foram reivindicados pelo testa de ferro dos banqueiros como ato próprio no governo de Lula. Nem Paulo Freire poderia ter sido mais pedagógico! 

Hoje, longe da cerimônia, os jornais publicam a receita de Meireles para tirar o país da crise com a riqueza de detalhes que o jornalismo burguês permite. É fácil, diz Meireles: há que fazer uma "reforma administrativa rigorosa, fechando estatais que já perderam finalidade, cortando benefícios indevidos, fazendo uma reforma fiscal bem feita, cortando também benefícios tributários dados há muitos anos, que já perderam finalidade. Esta nos jornais esses dias o total de benefícios tributários: R$ 400 bilhões por ano. Uma barbaridade. Existe espaço muito grande para se fazer um ajuste muito grande. O governo Lula, eleito, tem condições de fazer isso, com liderança, força e credibilidade."

Ora, os benefícios tributários de R$ 400 bilhões foram basicamente uma "conquista" dos governos Dilma. Temer e Bolsonaro apenas seguiram a onda sem tocar na grana garantida da burguesia "nacional" cada dia mais decadente. A diferença com os liberais é que o petismo fez tudo em nome do emprego e da renda dos trabalhadores, entendeu? Ora, as isenções tributárias bilionárias garantidas pelo petismo - antes antes de elevar o investimento - terminou em depósitos em bancos estrangeiros turbinando ainda mais o capitalismo dependente rentístico livre de qualquer tributação enquanto o desemprego e a inflação afundavam os trabalhadores no abismo social como podemos constatar ao verificar o gigantesco número de greves nos governos de Dilma. 

A História ensina que os banqueiros mantém severa discrição desde o século XII na Europa. Você nunca assistirá a cena de um banqueiro brigando ou lacrando um inimigo pois os banqueiros jamais aparecem na cena pública exibindo uma perversa espécie de "não existência"! No ato de ontem, Meireles foi chamado para uma entrada em cena como se fosse mais um mas era, sem sombra de dúvida, o artista principal. Os demais - entre os quais Luciana Genro e Boulos - eram menos que atores coadjuvantes; na verdade, desfrutavam da cômoda posição estatística garantida pela margem de erro.

O pragmatismo vulgar que orienta a esquerda liberal esta ajudando a criar as bases da maior crise da nossa história com ou sem vitória de Lula. Não obstante, tampouco podemos ignorar que tudo será mais grave e adverso para nós precisamente num eventual governo petucano (Lula/Alckmin) pois cada crise (real ou fantasmagórica) ou mesmo catástrofe, será debitada na conta da "esquerda", especialmente pela direita comandada pelo protofascista Bolsonaro. Até mesmo eventuais "conquistas" como aquelas anunciadas como altamente positivas pelo lulista ingênuo ("nunca os banqueiros ganharam tanto como no meu governo") ficará na conta na esquerda ainda que tenha, fundamentalmente, multiplicado o poder e o dinheiro das classes dominantes, especialmente, dos regentes da orquestra, os banqueiros. No conjunto, a coesão burguesa dorme serena: apoia Paulo Guedes e com decisão impediu a destituição do atual presidente que lhe garantiu lucros extraordinários aproveitando cada momento da crise cíclica tratada como se fosse uma "crise da Covid-19". Agora, tal como nos longos 14 anos do petismo, tem também a antiga, útil e fiel garantia de Lula.

De minha parte não espero de Meireles ou Lula mais que a enfadonha crônica dos fatos pois, estes, embora contem, não decidem. O movimento da História, repleto de grandes e pequenos eventos, comanda nosso destino. O problema atual é que para a esquerda liberal, o movimento da História é uma reminiscência hegeliana do passado e, ao contrário da conveniência dos banqueiros, nem mesmo os fatos contam.

Um comentário:

  1. Os petistas seguem deitados em berço esplêndido enquanto carregado pelos ladrões.

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